Minha Irmã Rosa
Autora: Justine Larbalestier
Ano: 2017 / Páginas: 392
Idioma: Português
Editora: Galera Record

Sinopse: Releitura atual do clássico de William March, Menina má, de 1954, atualizado com todo o desenvolvimento científico sobre sociopatia e psicopatia desde então. Muitas pessoas já chamaram seu irmão ou irmã de “mau”. Mas o novo thriller de Justine Larbalestier sobre o verdadeiro mal na infância trata disso da forma mais literal – e perturbadora – possível. O ponto de vista do livro, do irmão mais velho, só colabora para tornar a narrativa ainda mais sufocante, impossível de abandonar. Afinal, como você se sentiria se a pessoa mais aterrorizante que você conhece fosse sua irmã de dez anos? Che Taylor tem dezessete anos e ama sua irmã mais nova, Rosa. Mas ele também tem certeza de que ela é uma psicopata – clinicamente ameaçadora e perigosa. Recentemente, Rosa tem causado alguns problemas, machucado coisas. Che é o único que sabe; ele é a única pessoa em quem sua irmã confia. Rosa é inteligente, talentosa, bonita e muito boa em esconder o que ela é e a manipulação de que ela é capaz. Che sempre foi o porto seguro de Rosa, protegendo-a do mundo. Agora, o mundo pode precisar de proteção contra ela.

Resenha: Em uma releitura de um livro clássico, Justine entrega a obra-prima definitiva de sua carreira como escritora ❤

Desde seu primeiro livro lançado no Brasil (Magia ou Loucura), a autora vem flertando com a ideia do que é a insanidade, a realidade e a imaginação. Em Confesso Que Menti, nossa narradora nada confiável, sendo uma mentirosa compulsiva, nos oferece várias versões da realidade, de forma que no final ainda não sabemos se a última versão é a verdadeira ou se existe alguma coisa que é verdadeira na história.

Dando continuidade a todas as reflexões sobre realidade, mentira e psicologia, Justine aprofunda todos esses temas e discussões em Minha Irmã Rosa, obra que lhe rendeu indicação à maior premiação de romance policial, terror e suspense, o Edgar Awards

Minha Irmã Rosa é um livro sobre um garoto que nasceu na Austrália e viveu 10 anos de sua vida nesse país, porém durante os últimos 5 ou 6 anos vem se mudando constantemente de continente até que seus pais decidem que seu próximo destino seria os Estados Unidos. O problema é que Che, nosso protagonista, passou a maior parte desse tempo vigiando e protegendo o mundo de sua irmã Rosa, que ele suspeita que tenha Transtorno de Personalidade Antissocial, vulgarmente chamado de psicopatia.

O livro reflete sobre todas as questões humanas a respeito da mentira, que é uma das características de um psicopata. Para uma pessoa ser considerada “psicopata”, ela deve se encaixar em não apenas um critério, mas uma lista de comportamentos descritos pelo DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), e explorados brevemente no livro. Mas a reflexão do livro sobre mentira é interessante, porque traz a reflexão de como é difícil ensinar para uma criança porque é errado mentir quando é um comportamento tão comum na sociedade.

Obviamente, é que os comportamentos não podem ser vistos apenas na sua forma, também deve ser considerada a gravidade e a frequência da mentira. No entanto, imagina ter que explicar isso para uma criança de 10 anos que tem dificuldade de se colocar no lugar do outro (ou seja, não empática) e de abstração de conceitos (de entender sarcasmo).

A todo o momento, Che tenta ensinar sua irmã por meio de regras a como ser mais humana, como sentir mais como as outras pessoas, como ser “normal” e é fácil o leitor sentir como é um drama intenso, um dilema e uma responsabilidade muito grande em cima de um adolescente de 17 anos.

Toda a relação abusiva e tóxica que Che vive com Rosa, e com sua família, com pais que são também egoístas e que vivem em seu próprio mundo, frequentemente ausentes e negligentes às necessidades dos filhos. Che também está tentando se libertar do controle excessivo e regras sem sentido ditadas por esses pais ausentes e sem a mínima noção de quem são seus filhos.

O livro teve como principal objetivo recontar a história clássica de William March, “Menina Má”, de 1954, utilizando todas as pesquisas mais modernas sobre psicopatia. Esse esforço é facilmente percebível por todos os fatos sobre as estruturas cerebrais envolvidas no transtorno, sobre a influência do ambiente e da genética no comportamento, e sobre todos os critérios diagnósticos e sintomas explicados no livro.

Outro destaque positivo é o relacionamento de Che com seus amigos na Austrália, e sua nova amiga Sojourner. Na verdade, especialmente com a Sojourner, porque ela é super religiosa e tem essa regra de não namorar pessoas que não são da sua religião, enquanto Che, que tá super a fim dela, é ateu. Então tem várias discussões sobre acreditar ou não em Deus, sobre o que isso realmente poderia dizer sobre uma pessoa. Além de que esses dois têm uma cena inacreditável para um YA ❤ ❤ ❤ ❤

Enfim, tanto temas bons, tantas quebras de paradigma, tantas reflexões maravilhosas sobre a vida em sociedade, sobre certo e errado, sobre religião e, principalmente, sobre psicopatologia. É um livro extremamente bem embasado cientificamente. A Justine fez um trabalho de pesquisa incansável, leu vários artigos e livros científicos para escrever esse livro da forma mais fidedigna possível do que se sabe na ciência atual ❤

É interessante para todas as pessoas que se interessam pelo tema de psicopatia e para todas as pessoas que querem entender o que nos faz humanos, o que faz com que a gente se preocupe com as outras pessoas. É fascinante e contado de uma forma indescritível, assustadora ao mesmo tempo que encantadora ❤ ❤

Recomendo para quem gostou de Precisamos Falar Sobre Kevin (Lionel Shriver), Confesso Que Menti (Justine Larbalestier) e Menina Má (William March).

7 comentários em “Minha Irmã Rosa – Justine Larbalestier

  1. Eu li e não gostei. Li primeiro Menina Má ( que, meu Deus, Maravilhoso!! Lindo!! Amo!! Esse sim me fez “ofegar ruidosamente enquanto lia”), depois quando descobri Minha Irmã Rosa – principalmente o fato de ser um releitura do meu favorito (Menina Má) – tratando do mesmo tema, me interessei.
    Comprei. Li. Não gostei. A conclusão foi incrível, devo admitir. Porém para quem entende do tema foi previsível. O fim me lembrou de Menina Má, todavia… não foi tão bom assim.
    Não recomendo para leitores exigentes em relação ao titulo ter que seguir o conteúdo do livro. Ou o livro ser fiel ao titulo. As vezes Rosa não é o tema principal e sim um romance (estranho).
    Se a autora explorasse mais essa conclusão na historia inteira e deixasse de lado esse romance, com toda certeza seria o meu favorito. Sobre genética. Deveria ser mais explorado.
    Recomendo somente para jovens que queiram ter um leve contato com suspense. Não é uma obra tão seria.
    Particularmente.

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    1. Obrigada pelo comentário, Veronica! O livro é sobre ter uma irmã psicopata. Nesse sentido, o título é perfeito. Mas não é sobre a pessoa psicopata em si e talvez isso que tenha te decepcionado um pouco.
      De qualquer forma, parece que a autora está escrevendo um livro contado pela visão da pessoa com o transtorno de personalidade, talvez esse faça mais seu estilo 🙂

      (É uma obra séria o suficiente para ser indicada ao Edgar Awards, uma das premiações mais famosas dos EUA de literatura policial, suspense e terror. Não é pq tem foco nos adolescentes que o livro é menos sério, sabe.)

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